sexta-feira, 22 de abril de 2011

Passagem para o leste e passos para trás.


Muitos não entendem o porquê de não acreditar cegamente, ou a descrença em histórias grandiosas que dão um significado a tudo que se vê, sente e vivencia no cotidiano. Porém, não param para observar quão maravilhosa a realidade é, que o sentido defendido pela bandeira da fé pode ser tão raso quanto um prato de sopa.

 Crer não é mais do que um vício perpetuado nos memes de várias sociedades incapazes de explicar com seu próprio raciocínio aquilo que espantava a mente dos mais sábios seres humanos da época; como um relâmpago, ou um vulcão em erupção, talvez um eclipse, ou até mesmo uma simples chuva fora de época. O medo de não entender fez com que pensássemos que a não compreensão era o objetivo, que tudo estava sob o monopólio de um ou vários seres acima de tudo, com poderes inacreditáveis, capazes de criar e destruir o mundo com um simples pensamento: somos inferiores e, portanto, incapazes de entendê-lo(s).
 Qual o mal dessa simples crença? Uma explicação imaginativa, cheia de criatividade não deveria causar indignação em nenhuma pessoa.

 Só que o poder do mito é muito inferior ao da mitologia. Os homens observaram que deter a palavra e as normas de Deus era uma ferramenta muito útil. Fazia com que as pessoas obedecessem tudo o que era dito pelos representantes divinos, se subjugassem aos interesses deles, criava um conformismo camuflado de ordem em uma sociedade. E tal aspecto só progrediu geometricamente ao longo dos séculos, da mesma forma que a população mundial.

 Sangue derramado, barbáries, segregação, ódio inflamado por sede de poder, genocídios, corrupção, desrespeito, homens sábios desonrados em nome do status quo religioso, mulheres apedrejadas, queimadas, estupradas por instrumentos de tortura, homens enforcados, esquartejados, também queimados, decapitados, mutilados. Tudo isso apenas por pensarem "E se?". E se não há nada? E se eu tenho o direito de ser livre? E se a Igreja não estiver certa? E se a Terra não for o centro do universo? E se o ser humano está acima do livro sagrado? E se eu tenho o direito de fazer o que quiser com o meu corpo? E se os profetas eram lunáticos? E se eu sair sem o meu véu? E se evoluímos de outras espécies como as evidências mostram? E se eu amar alguém do mesmo sexo? E se negros e brancos forem iguais? E se tudo aquilo que eu ouvi durante toda a minha vida, tudo que me foi ensinado, repetido como mantra e perpetuado por todos que conheço estiver errado? E se eu fizer meu próprio destino?

 Todos esses massacres forem sustentados pelo desejo humano de sentir-se confortado, ou em paz com uma ideia metafísica. Tudo foi patrocinado por pessoas boas que não tinham a menor intenção de fazer mal a outrem. O efeito borboleta em sua forma mais dinâmica e implacável.

 Antes de acreditar é preciso ter a sensatez de não saber. Misturar fé com entendimento gera nitroglicerina social que reage com qualquer movimento mais brusco de um Zeitgeist e cria uma sociedade implosiva, potencialmente suicida. Tenha fé se quiser, mas jamais a use com a arrogância que o fanatismo prega ao tentar substituir o conhecimento empírico, palpável. Não busque justificativas levianas sem antes buscar as explicações sensatas e coerentes. Não coloque nada acima de si mesmo ou de qualquer outra pessoa.

 Você não está sozinho. Basta olhar em volta, não para cima.


Feliz Páscoa!